Cidades inclusivas: conheça o conceito e entenda a importância

No Brasil, com o Censo 2010, estima-se que aproximadamente 24% da população tem, ao menos, algum grau de dificuldade em relação às habilidades questionadas: caminhar, enxergar, subir degraus e ouvir, o que representa quase 46 milhões de pessoas.

O ser humano tem a diversidade na essência, e é essencial respeitar a individualidade, sem excluir a pessoa de nenhuma participação socioeconômica, para garantir acesso aos espaços públicos, espaços de convívio, de turismo, de trabalho, de lazer e afins, por meio das cidades inclusivas.

Para entender o que são cidades inclusivas e compreender melhor a importância e relevância desse assunto, acompanhe o conteúdo a seguir!

Cidades inclusivas: o que significa?

Nas cidades inclusivas, existe um ambiente físico adequado e favorável a toda e qualquer capacidade de cognição e condição de funcionalidade. Isso significa que deve haver facilidade de acesso, que garanta a interação social plena e de qualidade a todas as pessoas, sem barreiras sociais e ambientais.

Esse conceito abarca pessoas de todas as idades, incluindo crianças com deficiência física ou intelectual ou com restrições temporárias, idosos com algum tipo de redução de mobilidade ou comprometimento de outra habilidade.

Isso é relevante, pois, quando as cidades não são pensadas para a participação de todos, boa parcela da população encontra, na limitação, uma forma de exclusão que impacta diretamente a qualidade de vida, as chances de desenvolvimento, o convívio com seus pares e o exercício dos direitos humanos.

Portanto, uma cidade inclusiva tem com acesso irrestrito a todos os cidadãos em relação aos serviços públicos e privados, a espaços e infraestruturas, atendendo à diversidade existente nas necessidades da população.

Cidades inclusivas e o 11º ODS da ONU

No mesmo raciocínio apresentado, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para serem implementados por todos os países até 2030.

Esses objetivos foram lançados na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável em 2015 e envolve fatores como erradicação da fome, da pobreza e garantia da educação inclusiva.

O tema da 11ª ODS é que as cidades sejam sustentáveis e inclusivas, cujo conceito de inclusão é o reconhecimento de que todos têm direito de participação na elaboração do ambiente urbano e de se beneficiar de todo o desenvolvimento da cidade.

Sendo assim, o resultado esperado é a promoção de amplo acesso a todos os indivíduos em relação a oportunidades, serviços e empregos. Para isso, durante o processo, todas as pessoas devem participar do planejamento, em conjunto com especialistas, para que a diversidade seja representada.

Afinal, ninguém tem mais conhecimento efetivo das diversas necessidades existentes do que as próprias pessoas que compõem a população da cidade e que se deparam com as barreiras físicas e sociais cotidianamente.

Desenho universal como meio à inclusão nas cidades

Após entender o conceito e a importância das cidades inclusivas, é o momento de compreender um pouco mais sobre como podem ser construídas, e o desenho universal desempenha um papel importante para isso.

Na década de 1980, nos Estados Unidos, o arquiteto Ron Mace desenvolveu o conceito de desenho universal, que posteriormente teve aprimoramentos e modificações com o passar do tempo.

Esse conceito foi criado principalmente em razão do final da 2ª Guerra Mundial, em que um grande número de pessoas ficou com algum tipo de deficiência decorrente do conflito.

Isso serviu como base para esse desenho, para que os projetos arquitetônicos, urbanos e de design deixassem de usar um modelo de escala pensado em um padrão e incluísse todas as pessoas e suas diversidades.

Sendo assim, o desenho universal é projetado sem barreiras físicas e pensado de uma forma que atenda a pessoas, de todas as alturas, pesos, idiomas e necessidades diversificadas.

Isso significa que, se uma cidade for pensada com base no desenho industrial, será acessível e benéfica a todos que tenham alguma deficiência ou não.

Cidades inclusivas para o turismo

O conceito pode e deve ser visto amplamente, inclusive em relação à inclusão turística nas cidades, pois não atendem apenas aos seus cidadãos, mas a todos que queiram visitar.

Nesse sentido, a acessibilidade no turismo, por meio dos princípios do desenho universal, também é de suma importância e não deve dividir os turistas com algum tipo de necessidade especial dos demais.

Ou seja, a inclusão, para ser efetiva, não pode ser segregada, adaptando uma parte da cidade ou determinada área de um ponto turístico ou de uma praça às necessidades de uma parcela do público, mas, sim, precisa assegurar que todo o ambiente receba todos.

Parque Ibirapuera

Imagem digital de várias pessoas andando pelo Parque Ibirapuera, com ciclistas andando na ciclovia.

Um bom exemplo de tudo que está sendo abordado neste conteúdo é o Plano de Intervenções, feito pela Plantar Ideias no Parque Ibirapuera, em 2019. Esse plano vem sendo aprovado pelos órgãos de preservação, para que o parque seja mais acessível a todos e tenha uma inclusão universal, assim como outros espaços também devem ter.

Neste projeto, a Plantar Ideias idealizou a eliminação de barreiras urbanas, com soluções como a substituição de guias por sarjetões, que eliminam degraus urbanos. Inclui-se no masterplan ainda outras soluções de pavimentação, melhoria de acesso aos espaços coletivos, dando a oportunidade de todos os visitantes acessarem todos os equipamentos com rotas acessíveis e seguras de forma autônoma.

Neste projeto, todo o sistema de comunicação do parque foi substituído por sistemas digitais, que futuramente poderão estar integrados com sistemas de comunicação artificial, ampliando ainda mais a acessibilidade e a inclusão. Inclusão e acessibilidade são um tema amplo de soluções e merecem um olhar 360º sobre qualquer objeto de estudo e projeto.

Importante destacar que atualmente existem leis no Brasil, além do acordo com a ONU, que asseguram a inclusão das pessoas com deficiências e garantem acessibilidade nos espaços e nas edificações públicas e privadas, como a Lei n.º 13.146/2015, que estabelece o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Com isso, os novos projetos precisam ser desenvolvidos assegurando o acesso inclusivo, e os já existentes devem ser adequados, para que as cidades inclusivas sejam possíveis.

Por isso, diversas intervenções foram indicadas como necessárias no Parque Ibirapuera pelo projeto da Plantar Ideias para tornar esse espaço mais acessível a todos os públicos.

Uma cidade inteligente pode ser inclusiva?

Por fim, vale um destaque para como a tecnologia pode ajudar na inclusão. Com o avanço tecnológico, várias áreas podem ser beneficiadas, e a inclusão é uma delas.

Atualmente, as cidades estão se tornando inteligentes para proporcionar maior bem-estar às pessoas por meio do uso da tecnologia na solução de conflitos e demandas, com tecnologias construtivas, softwares e hardwares que podem atuar nos espaços urbanos.

Essa arquitetura urbana inteligente pode e deve ser também inclusiva do ponto de vista da diversidade humana. Muitos sistemas, dispositivos e sensores podem ser utilizados para facilitar o acesso livre e independente de pessoas com necessidades visuais e auditivas, assim como de muitas outras, interligando o conceito de cidade inteligente com o de cidade inclusiva.

A instalação de sensores e temporizadores sonoros que anunciem quando um deficiente visual pode atravessar a rua, por exemplo, é uma forma de aliar a tecnologia com a inclusão. Outra forma é a instalação de quiosques digitais pela cidade com acessibilidade em termos de visão, audição, mobilidade e altura, permitindo que todas as pessoas possam obter informações sobre a cidade, rotas, estabelecimentos, cultura e muito mais.

Ainda, as cidades inteligentes podem ser inclusivas por meio da comunicação artificial, pois sistemas com Inteligência Artificial e assistente virtual conseguem ter uma comunicação de qualidade com deficientes visuais, o que pode ser aplicado em diversos serviços e pontos urbanos, inclusive, nos quiosques mencionados acima.

Sendo assim, todas as áreas da arquitetura e do urbanismo estão voltadas à criação de projetos universais com inclusão e acessibilidade a partir de tudo que a tecnologia pode oferecer, tendo como foco a melhoria do bem-estar social, em que as cidades inclusivas são o futuro.

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Homem usando cadeira de rodas indignado em frente a uma escadaria sem acesso com rampa, representando a importância das cidades inclusivas